25. mar., 2017

O pão de cada dia

Uma noite fui com o meu pai comprar pão quente a uma das padarias que havia na vila. Já em casa havia coisa melhor que comê-lo com "Planta"... Passaram muitos anos até voltar a comprar pão quente desta vez numa padaria que havia na aldeia do Telheiro, mesmo no sopé de Monsaraz. Aquele pão alentejano de côdea estaladiça com a manteiga a derreter era uma tentação ao fim de um dia de trabalho... Ao longo dos anos fui encontrando sem que as procurasse pequenas padarias espalhadas pelo nosso país, e de vez em quando aproveitava para comprar um pão acabadinho de fazer. Uma cuja visita não dispenso quando vou para essa zona fica no Lugar da Estrada, Consolação, a cinco ou seis quilómetros de Peniche. "O Pão Quente" faz quanto a mim a melhor broa de milho para não falar nos pãezinhos de centeio, canela e passas. Absolutamente deliciosos! Fui educado para respeitar o pão. Se por acaso um pão caía ao chão, a minha avó apanhava-o, sacudia e dava um beijo em sinal de respeito. Pode parecer uma falta de higiene, mas convenhamos que naquela época quando isso acontecia em casa a mesma estava limpa... Quem alguma vez passou fome e não me estou a referir a casos extremos de necessidade, mas a casos pontuais em que não há outra coisa para comer sabe dar valor a um pedaço de pão mesmo que esteja um pouco duro. Fazer pão é qualquer coisa de mágico. Digo isto e muitos estarão já a pensar em horas a amassar. Não é bem assim. Refiro-me a fazer um pão para consumo doméstico e não a abastecer uma padaria! Não requer tanto trabalho, mas paciência para esperar que os fermentos façam o seu trabalho. Quando está no forno o cheiro que invade a nossa casa é qualquer coisa de fantástico. Fazer pão quando há tanta variedade disponível nos supermercados? Por acaso já se deram ao trabalho de ler a composição dos mesmos? E nunca lhes aconteceu comprar um pão embalado e dias depois, o máximo foram quinze dias, este continuar fresco como se tivesse sido comprado no dia? A mim já e fez-me pensar sempre que possível  evitá-lo. Há relativamente pouco tempo descobri uma padaria que utiliza farinhas integrais e tem uma boa variedade, a "Pan Contigo" em Badajoz. É bom descobrir que ainda há quem se dedica a este ramo e faz questão em utilizar produtos naturais e apresentar novos produtos. Por exemplo no centro de Sevilha há uma pequena padaria que vende pequenas fatias de pão, basicamente o excedente cortado em pequenas fatias e regado com uma mistura de água e anis, antes de voltar ao forno para tostar. A mim que não me falte o pão e vou terminar com outra frase que a minha avó costumava dizer, "mesa sem pão até o diabo se ri"!